Rússia retira taliban da lista de grupos terroristas

por RTP
Taliban estão no governo do Afeganistão desde 2021 Samiullah Popal - EPA

A Rússia anunciou esta quinta-feira que retirou os taliban da lista de grupos que o Kremlin vê como terroristas. O grupo afegão foi apontado como inimigo durante duas décadas, mas agora Vladimir Putin abre caminho para novas relações com a liderança do Afeganistão.

Não existe outro país no mundo que reconheça os taliban como governo legítimo do Afeganistão. O grupo voltou ao poder em 2021, num momento de retirada caótica de várias forças ocidentais do país, depois de 20 anos de guerra. Em sentido contrário, Vladimir Putin tem aceitado o movimento islâmico e criado novos laços diplomáticos.

O presidente russo chegou mesmo a afirmar que os taliban se tornaram num importante aliado na luta contra o terrorismo. Moscovo teve o grupo como terrorista desde 2003, decisão revertida esta quinta-feira e anunciada pelo Supremo Tribunal da Rússia.

“A decisão entra imediatamente em vigor”, explicou Oleg Nefedov, juíz responsável pela decisão, citado pelos meios de comunicação estatais russos. Apesar de não considerar o grupo terrorista, a Rússia garante que não está a reconhecer o governo taliban.

De acordo com a Reuters, Vladimir Putin vem apontando com mais veemência a ameaça de vários grupos terroristas islâmicos que ameaçam a Rússia e pretende juntar-se aos taliban para criar novas estratégias de segurança.

O último exemplo de um ataque deste género aconteceu em março de 2024, quando um homem armado entrou por um salão de espetáculos de Moscovo e matou 145 pessoas. Mais tarde, o Estado Islâmico reivindicou o ataque e os serviços secretos dos Estados Unidos revelaram que o autor pertencia a um ramo afegão do grupo terrorista, o ISIS-K.

Amir Khan Muttaqi, ministro afegão dos Negócios Estrangeiros, saudou a decisão russa, que considera um “importante desenvolvimento das relações bilaterais” entre Cabul e Moscovo. O MNE do Afeganistão fala em “decisão histórica”.

“Com esta decisão, foi removido o único obstáculo que impedia uma maior cooperação política e económica” entre a Rússia e o Afeganistão, saudou o ministro afegão num encontro com o embaixador russo, Dmitry Zhirnov.

Sendo grupos rivais, os taliban garantiram que pretendem terminar com a presença do Estado Islâmico no Afeganistão. Apesar da decisão da Rússia, a maioria da comunidade internacional garante que não vai mudar o relacionamento com o governo afegão até que Cabul altere as suas políticas sociais, especialmente aquelas relacionadas com os direitos das mulheres.

Desde que voltaram ao poder, os taliban vedaram a possibilidade de as mulheres estudarem, tanto em escolas como em universidades, e decretou que têm de ser constantemente acompanhadas por um homem sempre que saem à rua. O grupo diz que respeita os direitos das mulheres, tendo em conta o que decreta a sharia, a lei islâmica.
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